quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Uma terra sem INBEV (ou ANBEV)

Tá, é claro que o título é um exagero. Aqui no Chile, como em qualquer lugar do mundo, se você for ao supermercado/bar vai encontrar disponíveis toneladas de Brahma, Stella Artois e Budweiser.

No entanto, até o momento, a INBEV não adquiriu nenhuma cervejaria nacional local e, talvez, o Chile não seja um mercado tão interessante a ponto de se fazer um investimento desse porte, afinal o país inteiro tem a população da grande São Paulo e o pessoal não é, nem de longe, tão cervejeiro quanto no Brasil. Verdade, nas festas locais até tem cerveja, mas é uma bebida quase coadjuvante ao lado do pisco-sour, piscola, vodka com tônica e, claro, vinho.

O resultado disso é que, no Chile, qualquer bar tem uma grande variedade de cervejas e chopes de diferentes marcas. Ademais, qualquer lugar que tiver, por exemplo, chope Stella também terá Coca-Cola no cardápio. Isso parece meio óbvio e bastante inútil, mas faz diferença quando a pessoa está de ressaquinha e quer tomar uma Coca (e não Pepsi) antes de voltar a beber.

Ademais, cervejarias artesanais (artesanais numas né, mas tudo bem) ainda existem e persistem e usam água da cordilheira o que não pode ser ruim.

Antes de qualquer coisa, já vou adiantando que não tenho nada contra as cervejas da INBEV (exceto a Bud que eu acho muito ruim e só tomo nos EUA pq é, normalmente, a única bebida que dá para tomar sem encarar uma tremenda ressaca bancária), mas é bom variar e ter opções diferentes nunca foi problema para ninguém.

Também já vou anunciando que não sou gourmet e não entendo picas de cerveja. Há cervejas que eu gosto e cervejas que eu não gosto, simples assim. Dito isso, vamos as brejas.

Bem, a cerveja local mais pop se chama Escudo e é horrível e barata. Na verdade, acho que a cerveja se chama Escudo porque no dia seguinte a pessoa se sente como se tivesse levado vários golpes de machado. Claro que há outras opções.

A mais popular, dentre as cervejarias artesanais chilenas, é a Kunstmann de Valdívia. Das variedades que já tomei, achei quase todas boas, bem saborosas e diferentes entre si. E quando digo diferentes, é diferente mesmo (não como a Original é diferente da Serra Malte, sei lá).

A Kunstmann Lager, por ex., é bem clarinha (ou, mais técnica e espanholamente falando rubio dorado), grau 4, ótima para tomar por horas e horas.

Já a Torobayo Ale é mais amarelona, um pouco mais forte e perfumada. Boa também.

Tem ainda a Gran Torobayo mais escurona e avermelhada (ou ambar rojizo oscuro) mais forte (grau 7,5). Para dizer a verdade, essa eu nunca tomei, mas tem boa fama. Está na minha lista e preciso remediar isso logo.

De fato, das cervejas Torobayo, a única que tomei e não gostei foi a miel. E você deve estar se perguntando: miel? Pois é. Logo que cheguei aqui, fui a um bar e lá pelas tantas, acabou a Torobayo Ale e a Lager. A garçonete então se vira para mim e diz: só tem a miel. Eu podia ter pedido uma Stella, uma Corona, uma Brahma, uma Bud, mas pedi a tal miel.

Na minha cabeça já meio bêbada eu pensei: ah miel? Eu não devo ter entendido direito, eu nunca entendo nada que esse povo fala.

Pouco depois, a garçonete volta trazendo uma garrafinha de cerveja com uma ABELHA GIGANTE desenha no rótolo. Sim, isso mesmo, uma abelha. Duvidam?

Não sei de quem foi essa idéia, mas sei que não deu certo.

Outra cervejaria independente local (para muitos, incluindo o Carlos, melhor até que a Kunstmann) e que faz cervejas bem boas é a Kross. No caso, já provei a Pilsner (amarguinha e amarelona) e, de acordo com o fabricante, feitas com lúpulos checos e a Golden Ale também muito saborosa.

Além de boas, o logotipo da cerveja é um homenzinho, com calças boca-de-sino correndo com um copinho de chope na mão muito bonitinho e que me faz sempre achar que, em algum lugar, deve estar rolando uma cervejada muito louca.

Bem, eu sou o tipo de pessoa que quando provo algo e gosto, acabo me repetindo. Assim, acho que ainda há outras cervejas locais boas que preciso conhecer. Eventualmente, atualizo esse post.

E por fim, preciso fazer uma menção honrosa a Paceña, uma cerveja Boliviana que é, para mim, a cerveja mais leve que já provei na vida, muito boa para o calorão. Viciei completamente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Crise na Receita Federal

Esse é mais um destes posts sem nenhuma relevância, mas eu não aguento mais escutar tanta inutilidade.

Agora criaram uma tal de crise SEM PRECEDENTES na Receita Federal. Como esse tema de certa forma me toca, fico aqui com meus botões arrancando os meus cabelos cada vez que leio qualquer besteira sobre esse tema.

Tinha até pensando em comentar, mas vão dizer que eu sou tendenciosa. Até que hoje sai publicada enrevista com o Everardo Maciel no UOL (que foi o Secretário da Receita Federal durante o governo Fernando Henrique) e que diz o que tem para ser dito.

Como no Brasil o povo lê jornal igual quem houve previsão de astrólogo (só dá bola para o que quer ouvir) não custa reprisar e divulgar.

Fiscalização foi desarticulada com Lina, diz Everardo Maciel

YGOR SALLES
da Folha Online

O ex-secretário da Receita Federal no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, Everardo Maciel, disse nesta quarta-feira em entrevista à Folha Online que a fiscalização dentro do órgão foi "desarticulada" durante a gestão de Lina Maria Vieira, que deixou o cargo no mês passado pouco menos de um ano depois de substituir Jorge Rachid.

Segundo ele, as principais metas de fiscalização e planos de ação fiscal "não existem mais". Maciel ainda desmentiu a tese de que o foco sobre as grandes empresas foi uma marca na gestão de Lina, como defendem os funcionários da Receita que deixaram cargos de confiança. Segundo reportagem da Folha, cerca de 60 pessoas em postos de chefia, distribuídas em 5 das 10 superintendências regionais, avisaram seus superiores que deixarão suas funções.

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"Isso é falso. Quem criou a delegacia de fiscalização dos bancos fui eu. O criador do programa de fiscalização de grandes contribuintes fui eu. Então isso não é verdade. Era preciso medir com precisão, e não como foi divulgado com os dados de São Paulo, quantos grandes contribuintes foram fiscalizados no primeiro semestre comparado com semestres anteriores. Aí vamos ter uma surpresa", disse.

Maciel ainda rejeitou a tese de que o cargo de secretário da Receita deveria ter mandatos --como ocorre, por exemplo, com as agências reguladoras.

"É um cargo como o de secretário do Tesouro, como o de presidente do Banco Central, ou de presidente do Banco do Brasil. Se você conferir mandato, começa a distanciar o trabalho destas instituições da política geral de governo", explicou.

Veja os principais trechos da entrevista:

Folha Online - Como você observa esse movimento de cargos na Receita? É normal após mudanças na chefia?

Everardo Maciel - Quando a Lina assumiu, mudou um número enorme de pessoas, e essas pessoas que foram nomeadas por ela em substituição às outras agora pediram para sair, algumas em caráter irrevogável (risos). Essa mudança é normal. Cada pessoa tem um estilo, e essas posições são cargos de confiança por parte de quem nomeia e é exercício voluntariamente por quem exerce.

Folha Online - Pelo que o sr. conhece, haverá mais gente pedindo para sair de cargos de confiança ou os que já saíram são os que Lina mudou antes?

Maciel - Não, a Lina mudou muito mais. Mas acho que não há quem possa fazer essa avaliação. O ato de sair é pessoal. Até porque várias pessoas que foram nomeadas por ela decidiram ficar.

Folha Online - A Lina é uma ruptura de um estilo de fiscalização que vinha desde o senhor e passou pelo Jorge Rachid, mudando o foco para as grandes empresas?

Maciel - Isso é falso. Quem criou a delegacia de fiscalização dos bancos fui eu. O criador do programa de fiscalização de grandes contribuintes fui eu. Então isso não é verdade. Era preciso medir com precisão, e não como foi divulgado com os dados de São Paulo, quantos grandes contribuintes foram fiscalizados no primeiro semestre comparado com semestres anteriores. Aí vamos ter uma surpresa. Então isso vai ser um factóide.

Folha Online - Neste caso, o que mudou de fato na gestão da Lina?

Maciel - O que mudou é que a fiscalização foi desarticulada. Todos os projetos de metas de fiscalização e de planejamentos de ação fiscal não existem mais. A tecnologia está desarticulada. Pela primeira vez em muitos anos, uma declaração de informações teve uma data de entrega adiada. Sabe qual? A dos grandes contribuintes. A data era 30 de junho, agora marcaram para 16 de outubro. Como vai fazer a fiscalização se nem a declaração eles têm?

Folha Online - Quando há essas mudanças de chefia, atrapalha quanto o andamento das fiscalizações?

Maciel - Isso é difícil [de calcular], porque é uma questão profundamente pessoal. Depende da qualidade profissional de quem é substituído e do substituto, o grau de capacidade de trabalho e de liderança de um e de outro. Mas isso ocorre em qualquer instituição.

Folha Online - Na sua opinião, o cargo de secretário da Receita deveria ser blindado de pressões políticas através, por exemplo, de mandatos?

Maciel - Acho que não tem cabimento. É um cargo como o de secretário do Tesouro, como o de presidente do Banco Central, ou de presidente do Banco do Brasil. Se você conferir mandato, começa a distanciar o trabalho destas instituições da política geral de governo.

Folha Online - Então como poderia ser definido um limite do que é diretriz política ou politicagem?

Maciel - Políticas de fiscalização são construídas através de informações vindas do tratamento de dados, cada vez mais isso fica no plano da inteligência fiscal, e não no plano de atos voluntaristas. Eu não conheço nenhum ato que envolvesse proteção ou perseguição a quem quer que seja. Isso é cada vez mais institucionalizado.