sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sewell

Sewell é uma cidade mineira há 2.200 metros de altitude e é considerada pela Unesco patrimônio da humanidade.

Foi construída no início do século XX pelos americanos que na época exploravam o cobre chileno. Ainda hoje, o acesso se dá pela área da maior mina de cobre do Chile - e portanto do mundo - com cerca de 2.800 km de túneis.

De fato, para se chegar a Sewell você tem que, literalmente, atravessar toda a instalação da CODELCO. Só se pode ir à Sewell de excursão já que veículos particulares não são permitidos pela estrada do cobre (o que, diga-se de passagem, é bastante compreensível considerando a quantidade de caminhões de ácido sulfúrico e outras maquininhas malucas que circulam por ali).

Na verdade, há excursões pela mina (sim você pode entrar no buraco dentro da montanha). Não peguei esse tour, de qualquer forma a vista das instalações internas já é muito impressionante.

No início do século XX os americanos instalaram uma cidade mineira de características muito peculiares. A idéia era muito simples: como fazer para manter 1.000 engenheiros americanos (e suas famílias) e 15.000 mineiros chilenos (e suas famílias) convivendo e maneira razoavelmente pacífica num ponto completamente isolado no meio dos Andes?

A resposta é Sewell.




Sewell, cujo auge se deu na primeira metade do século, tinha um teatro onde cantavam, de graça, artistas famosos da época. Parece até que um dos vocalistas dos The Platers viveu um tempo em Sewell. O cinema de Sewell apresentava todo e qualquer filme americano apenas 15 dias depois de sua estréia nos Estados Unidos. Em Sewell chegavam brinquedos que não existiam no Chile. Sewell ainda teve a primeira piscina olímpica aquecida da América Latina, foi a primeira cidade com sistema de calefação e outras novidades. A cidade tinha até um boliche!

E não é só. A cidade tinha os melhores médicos e infra-estrutura hospitalar do Chile (a primeira máquina de raio-x da América Latina adivinha onde foi instalada?). Os americanos selecionavam os melhores alunos das universidades chilenas, mandavam para os Estados Unidos e depois para Sewell. A quantidade de médicos era o dobro da que hoje se considera recomendável. A idéia era evitar que, no caso de uma grande tragédia na mina, a cidade ficasse sem assistência.

A cidade também tinha escola e um sistema rígido para manter as crianças sempre estudando. O bedel ia buscar em casa qualquer um que cabulasse. E se a pessoa quisesse parar de estudar? Bastava firmar uma declaração e aí... mina (ou faxina, se fosse mulher).

Nos anos 60, começou o processo de nacionalização do cobre. No dia seguinte à eleição do Allende, os americanos deixaram Sewell com a roupa do corpo, antes mesmo de qualquer movimento de extradição (imagina a grana que os caras já não tinham feito). Deixaram para trás suas casas, móveis (todos em madeira de carvalho) jóias e outros tipos de coisa.

Com a criação da estatal, começou-se a planejar o desmonte da cidade (de manutenção muito cara). Além disso, por esse tempo, descobriu-se que a poluição local era um terror absoluto e que, além do mais, o ar estava contaminado com arsênico o que culminou com o total abandono da cidade.

Hoje em dia, embora os níveis de contaminação tenham sido reduzidos em 80%, ainda não se pode ter hotel no local. Assim, só há excursões pelo dia e apenas nos finais de semana e feriados.

Pois bem, com a fuga dos americanos, as casas que em que eles viviam (supostamente as mais bonitas) foram desmontadas e vendidas. O resto da cidade foi ficando e ficando, mas sempre sob a ameaça do desmonte, até que estudantes de arquitetura recorreram a UNESCO e a cidade foi convertida em patrimônio da humanidade.

O guia da excursão, Don Nelson, nasceu e cresceu em Sewell e contou várias histórias pitorescas da cidade. Aliás, foi a primeira vez que eu vi um guia dar informações interessantes sobre o local visitado (ainda vou colocar algumas histórias aqui)

De qualquer forma vale muito conhecer a cidade e também passar pela mina de cobre. Também farei um tópico específico sobre isso, já que não posso perder a oportunidade de falar sobre coisas tão interessantes quanto bactérias que comem sulfato de cobre e fazem coco de cobre.