segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Eleições

Voltei a Santiago e ao blog também.

Como não poderia deixar de ser, o tema deste post será as eleições presidenciais e legislativas que ocorreram ontem (primeiro turno).

Para não correr o risco de “chover no molhado” vou poupá-los de passar as informações que todos podem ver no UOL e similares, até porque isso seria muito chato. O post é sim para tratar de curiosidades sobre as eleições então vamos a elas.

O primeiro tópico – eu achei demais – é que as zonas eleitorais aqui são divididas por sexo. Aqui ao lado de casa, por exemplo, tem um colégio onde votam mulheres e só mulheres. O Carlos, por sua vez, tem que ir votar em outra parte, distante umas dez quadras daqui, porque lá é lugar de homem.

A desculpa oficial para esse clube da luluzinha/bolinha eleitoral é que, no passado, só homens votavam. Assim, quando foi aprovado o voto feminino, para não sobrelotar as zonas eleitorais existentes, foram abertas novas zonas para as mulheres.

Acho uma desculpa muito furada! Em todos os lugares do mundo (ou quase todos) o direito a voto das mulheres sempre foi concedido num segundo momento da história e nem por isso as zonas eleitorais são divididas por sexo, salvo talvez no Afeganistão e Arábia Saudita, sei lá (nem sei, posso estar levantando falso).

Outra coisa estranha é a forma de apuração. Em vez de pegar a urna e levar para algum lugar, assim que termina o horário de votação, eles simplesmente abrem a urna ali mesmo e contam na hora.

Por causa disso as ruas em volta das zonas eleitorais ficam fechadas até o fim da apuração local.

Essa prática deve ser boa para direcionar a campanha, já que fica fácil saber como as mulheres de Providência votam, se elas preferem candidatos bonitões ou com fama de bons moços e assim por diante.

Outra coisa que chama a atenção é que pelo menos a metade dos amigos do Carlos simplesmente não vota. Aliás, segundo o Carlos, só tem velho votando.

O pior é que você conversa com as pessoas e elas dizem: “ah, seu fosse votar votava no fulano”. Então por que diabos não vota!

Seria diferente se os caras dissessem: “ah, para mim tanto faz, político é tudo igual, tô cagando!”

Nesse caso eu pensaria: ok, o cara não dá a mínina e por isso não vota. Está certo. Mas se você se dá ao trabalho de pensar e achar que tem um cara que é melhor que o outro por que então não vota, oras!

Observando, cheguei à conclusão que é para poder reclamar sem ter que assumir um compromisso e, se depois o cara der uma mancada, tipo declarar guerra ao Peru, ou roubar muito milhões de pesos, ou mandar matar o amante da mulher, a pessoa sempre pode dizer: bem, eu não votei nele (quem quer que ele seja). É cômodo e meio besta.

Antes eu até tinha dúvidas sobre o voto obrigatório, mas agora não tenho mais.

Agora é esperar o segundo turno e ver o que vai rolar. Para variar, ficou um cara de direita: Piñera; e um cara da concertación: Frei.

O divertido é que esse Piñera está querendo dar uma nova “cara” à direita chilena.

Vejam bem, ser de direita aqui significa ser enfaticamente contra leis “super atuais” locais como, por exemplo, o divórcio e a equiparação de direitos entre os filhos nascidos fora do casamento e filhos legítimos sob o argumento de que esse será o fim da sociedade civilizada. Sim, porque com o divórcio em voga e com a garantia de direitos para os filhos bastardos, quem agora vai querer casar e se unir perante os sagrados laços do matrimônio?

Parece exagero, mas o que tem de carta nos jornais de gente reclamando nesses termos é de morrer de rir de desgosto.

Isso para não falar no canal de TV católico que simplesmente se recusa!!! a passar propagandas governamentais que fazem campanha para o uso de camisinha!!!!

Daí vem esse Piñera e coloca na campanha um casal gay. Uma coisa tipo: a gente é reaça, mas gosta de gay. Ok, só que isso deixou tradicionais apoiadores da direita de cabelo em pé.

Teve um padre que escreveu esbravejando para o jornal dizendo que uma coisa é ser tolerante, mas outra é estimular a união civil entre pessoas do mesmo sexo, coisa que, segundo palavras dele, “nem no direito romano era aceito”.

Ahn.... desculpa, por romanos você quer dizer aqueles caras que jogavam cristãos aos leões? Então tá.

Agora é ver o que vai dar no segundo turno. A verdade é que ninguém agüenta mais a concertación que há vinte anos está no poder, mas também não vejo esse Piñera como um cara super pop.

Por fim, a coisa mais fantástica que eu descobri é que o George Contanza foi reeleito deputado por Santiago. Vejam:


Fala sério, põe um óculos no cara e veja o que acontece!

Imagina a cena, você está andando pela rua e dá de cara com uma propaganda política do George Contanza pregada numa árvore!

O Seinfeld virou abelha, a Eleine virou Christine e o George virou deputado - e foi reeleito!

Devo dizer que embora eu tenha descoberto isso sozinha, acabei sabendo que os caras do “The Clinic” – uma revista legal daqui – já tinham chegado à mesma conclusão.