segunda-feira, 13 de abril de 2009

Esses pascoenses são uns neuróticos

É isso aí... eu estive na Ilha de Páscoa e sobrevivi. Não achei nenhum indício de vida extraterrena, intraterrena nem mesmo qualquer traço dos Atlantis ou coisa parecida. De fato, após percorrer a ilha de cabo a rabo a única conclusão que se chega é que esses pascoenses são uns neuróticos.

Primeiro algumas informações práticas. Páscoa é uma ilha mais ou menos do tamanho de Ilha Bela que está completa e totalmente isolada no meio do Pacífico. Saindo de Santiago são cinco horas de avião mar adentro. Com mais quatro horas e meia de vôo chega-se a Papetee no Taiti. A Ilha faz parte da polinésia que eu vim a descobrir (desculpe se todo mundo já sabia isso, eu não tinha idéia) é formada por um triângulo imaginário cujas pontas são: Havaí, Nova Zelândia e Ilha da Páscoa. Assim, pode-se dizer que estive oficialmente na Oceania.

Atualmente a Ilha tem cerca de quatro mil habitantes e a cidade de Hanga Roa é formada por umas dez ruas. Sim, é menor que Terra Roxa.

Geologicamente, a ilha foi formada por três vulcões principais: Poike; Rano Kau e Terevaka; cada um deles localizado numa ponta da ilha e mais 70 outros pequenos vulcões – inclusive o Rano Raraku; todos extintos, claro.

Já a história dos Rapa Nui é bastante conhecida. Em algum momento por volta do ano 400 d.c. os pascoenses chegaram e logo começaram a fazer os famosos Moais (ou cabeções). A ilha era habitada por diferentes tribos bastante estratificadas e com uma hierarquia bem rígida: os poderosos moravam perto do mar e a ralé ficava mais para o interior.

Note-se que os Moais eram inicialmente fabricados no Ranu Raraku e de lá arrastados para toda a ilha (inclusive para a ponta oposta) percorrendo distancias, eu diria, de 16 km em linha reta. Alguns Moais foram abandonados pelos caminho, outros nem saíram da ‘fabrica’ que ficou assim.


Deve-se destacar que alguns detalhes das estátuas (como o acabamento dos olhos eram feitos depois). O chapéu que alguns Moais usavam também eram deixados para o fim e eram fabricados do lado oposto da Ilha num lugar chamado Puna Pau.

Pois bem, saindo da fábrica os Moais eram carregados pela Ilha até os Ahus que são uns altares que ficam, normalmente, perto do mar. Ninguém sabe muito bem como os caras carregavam os blocos de pedra, mas a tradição oral diz que os Moais andavam. Um arqueólogo maluco fez uma experiência: considerando o ponto de gravidade dos Moais e usando alavancas, toras de madeira e uma galera, conseguiu arrastar um deles, em pé, por cerca de 50 metros em duas horas.

Claro que, na sanha de fazer e carregar os cabeções, os caras destruíram a ilha, acabaram com todas as plantas e tudo mais, mas não acaba aí.

Revoltados com a situação na ilha, os pascoenses derrubaram TODOS os cabeções. Sim todos os Ahus e seus respectivos Moais foram destruídos. Os que hoje estão em pé foram restaurados por arqueólogos com a ajuda, em alguns casos, de uma empresa japonesa de guindastes em busca de publicidade gratuita (que ergueu uns Moais que não só haviam sido destruídos mas também 'espalhados' por uma tsunami).

Por volta do século XVI, o culto aos moais subiu no telhado e como a situação política da ilha estava tremendamente confusa e instável, o pessoal adotou um novo culto: o homem pássaro. Tratava-se de uma competição na qual se determinava que tribo mandaria nas demais pelo ano seguinte. Aparentemente, o resultado nunca era muito bem aceito e as tribos perdedoras passavam o resto do ano questionando a legitimidade do vencedor.

A competição em si parecia uma prova de líder do programa Survivor. Os competidores tinham que descer pelo penhasco da cratera do Rano Kau, se jogar no mar, nadar até uma ilha, atormentar os passarinhos que desovavam lá, pegar um ovo, voltar nadando e, por fim, escalar o vulcão. Quando sobrava alguém vivo, esse era o homem pássaro do ano.

Fizeram tanta confusão que quando os Europeus chegaram tinham umas 300 pessoas na Ilha.

Para piorar, no século XIX um barco peruano atracou na Ilha e levou quase todos os homens para o Peru para trabalharem como escravos. Graças a pressões internacionais (não sei muito bem de quem) os peruanos resolveram devolver uns últimos quatro gatos pingados que haviam sobrado. Esses gatos pingados, por sua vez, estavam contaminados com varíola e quando voltaram, quase exterminaram o resto dos habitantes. Em suma, é um milagre que ainda tenha alguém vivo por lá.

Os Moais que estão em pé são muito impressionantes, mas os Ahus destroçados têm aquele charme de ruína e devem se vistos também.

Para conhecer bem a Ilha alugamos um 4x4 que, pela semana toda, custou cerca de R$ 400,00 por cabeça. Foi uma boa opção já que dá muita liberdade e pudemos ir a quase todos os cantos (alguns pontos da ilha estão fechados para recuperação ecológica e só se entra a pé). Uma alternativa ao carro são os grupos de turismo, com guia etc. Não quer gastar e não suporta visita guiada? Seja macho e alugue bicicletas ou cavalos.

Deve-se ressaltar que alguns jovens Rapa Nui, quando viram mocinhos, resolvem ir viver como seus antepassados: vivem da pesca (acho), dormem em cavernas e andam a cavalo. Ah, sim, quando está sol ficam só de tanga fio dental. São chamados Yorgos.

Também dá para mergulhar na ilha. Pelo que vi há duas ‘empresas’ que alugam traje e levam qualquer um para mergulhar por cerca de R$ 40,00. Escolhemos uma chamada Orca porque era mais em conta e acabamos descobrindo que um dos donos era parente do Jacques Custeau (se era mesmo parente eu não sei, mas era francês com certeza). No fim, a água é tão limpa, tão azul e o lugar é tão isolado que eles te levam para mergulhar a 100 metros da costa e dá nisso:

Esse é o Carlos fazendo casting para o procurando Nemo parte II. Eu não mergulhei porque fiquei com dor de ouvido :o(.

No mais, embora as passagens sejam baratas e a gasolina seja subsidiada, a comida e bebida são muito caras e não tem muitas opções (pelo menos fora da temporada). Ainda assim, fomos a dois restaurantes excelentes (Te Moana e Kanahau). Os outros eram bons, mas tinham mais aquela cara de ‘restaurante de praia’. Os preços, no entanto, não eram muito diferentes.

Fora o hotel, não fizemos nenhuma reserva. Parece que na alta temporada os carros devem ser reservados com antecedência.

Também fomos a dois shows de dança Rapa Nui. Um deles feito pelo grupo Kari Kari que aparentemente preserva a cultura Rapa Nui. Ficamos numa tremenda dúvida acerca do que, nessa dança/música/figurino, é autêntico principalmente considerando que, após toda a história acima, devem ter sobrado uns três Rapa Nuis de verdade para contar história.

De qualquer jeito eu me diverti um monte. A percussão é bem animada e tem uma galera bonita rebolando e fazendo caras e bocas. Em algumas horas parece uma mistura de mestre sala e porta bandeira com dança do ventre.

Bem legal.

Ah, a Ilha também tem duas praias, mas só uma delas é própria para banho (a outra não tem salva-vidas). De qualquer forma, a água é meio geladinha pro meu gosto. Anakena tem palmeiras e Moais. Ovahe não tem nada disso e o sol acaba as 16:00 por causa da falésia mas é muito bonita.

Uma curiosidade é que a pista do aeroporto é a terceira maior do Chile já que é considerada pista de pouso de emergência para ônibus espaciais!!!!!! Fiquei muito intrigada com a seguinte dúvida, se, por acaso, algum dia um ônibus especial vier a pousar na Ilha da Páscoa como a NASA fará para levá-lo de volta? Ele decola e voa igual um avião? Vai rebocado? Faz escala onde?

Outra curiosidade: a ilha da Páscoa era chamada pelos Rapa Nui de umbigo do mundo. Pois bem: esse é o suposto umbigo da ilha (Te Pito Ote Henua). (Não consigo botar mais fotos, depois faço outro post)

Um comentário:

  1. AimeuDeusquesaudadedevocê!

    Houve trechos do seu relato entre os cabeções (cabeçuda!) em que eu quase ouvia sua voz, feínha!

    'Tô com saudades - mas não volte logo, não, fique aí! Para sempre.

    Beijo!

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